terça-feira, janeiro 29, 2008

Terraplanagem

Na mesma semana que visito pela primeira vez Istambul, uma mega-operação a envolver várias autoridades policiais e de segurança do estado (laico) turco desmantelou o que muitos dizem ser a ponta do iceberg de um estado dentro do próprio estado: um enorme e poderoso grupo paramilitar de mercenários radicais islamistas foi desmantelado e, sublinhe-se, que esta rapaziada estava integrada dentro das próprias forças armadas turcas. De entre vários "projectos", o grupo tinha na agenda o assassínio de Orhan Pamuk e um eventual golpe de estado em 2009 para "pôr as coisas no seu devido lugar".

Isto tudo para fazer uma breve - e, diga-se, simplista - referência há já eterna questão da entrada (ou não) da Turquia na União Europeia (UE). Não são para aqui chamados argumentos geográficos. Falando única e exclusivamente em termos do DNA de uma nação, a coisa pode não passar de uma utopia. Uma utopia que se prolongará no futuro, não por má vontade da "europa unida", nem por falta dela por parte dos próprios turcos. O que está aqui em causa é a própria natureza das coisas.

Pelo que consegui perceber em apenas 5 dias de visita à cidade mais emblemática e, porventura, mais representativa da essência da nação turca - Istambul, claro está -, para um país como aquele entrar numa estrutura como a UE implicaria uma mega-operação de terraplanagem de costumes, tradições, leis e tudo o mais possível e imaginário. Não há aqui juízos de valor em relação aos pilares que sustentam aquela sociedade. Apenas módulos de organização política, social e religiosa que parecem incompatibilizar uma adesão de pleno direito. Basta pensar em ASAE' s e outras questões quejandas para se perceber que aquele povo não está preparado para obedecer aos potenciais critérios de entrada na união e muito menos a UE parece ter a sensibilidade ou jogo de cintura para perceber a individualidade do país em causa. E note-se que apenas toco em temas manifestamente formais e instrumentais que porventura nem sequer teriam alcance para entrar em temas realmente melindrosos, como os direitos humanos ou das mulheres.

Que se tome isto como um elogio. Individualidade, coisa que parece faltar cada vez mais nos países da UE, é coisa que, para o bem e para o mal, não falta por aquelas bandas. Terraplanagem meus amigos. Só com uma mega-operação de terraplanagem.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

País de virgens (falsas e ofendidas) ou como ser mais cínico que os cínicos

Bem vistas as coisas torna-se pouco suportável esta nossa teimosia (quando digo nossa, digo portuguesa, digo lusa) em não aceitar as benesses e as maldições da realpolitik. O caso do não-referendo ao Tratado Europeu de Lisboa é o último dos exemplos-desilusões a abalar esta nossa hipócrita crença de que, em política, as promessas são para se cumprir. Um bom balde trampa é que são. Em política, as promessas são para se fazer. Depois logo se vê. Ponto final.

Continuar a acreditar, como escrevo em cima, torna-se insuportável e desanima. Autoflagelação nunca beneficiou uma nação (e respectivo povo) e um pouco de pragmatismo não faria mal a ninguém neste país... nem que seja para ganhar resistências e jogo de cintura.

By the way, eu sou, ou melhor, eu era pró-referendo.

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