Ferreira Fernandes, como sempre num patamar inacessível. Como fã incondicional dos Mão Morta e do sr. Caníbal... assino por baixo de cada um dos caracteres:
«Um
tipo dialético, com nome de tremer, Adolfo Luxúria Canibal, e cara de
Boticário, hidratante facial, gel e um niquinho de Malbec Balm, está a
lançar um álbum e não o faz com mão morta mas aos tiros. Voz gutural,
mas não confundir com a das tias de Cascais, o arranhado no nosso homem é
de indignação social. Diz-nos no álbum e no vídeo: "Pelo Meu Relógio
São Horas de Matar." Se não percebem, ele ilustra no vídeo com a canção
ao fundo. "Matar. Matar. Matar", diz em mimoso verso. É essa "a resposta
poética à crise", diz também. E o nosso Adolfo, de pistola em punho,
mata numa luxúria que se farta. À porta do BPN, do Parlamento, de Belém,
de igreja e de tribunal, mata disparando. Reparem: mata atores fazendo
de um talvez banqueiro, um talvez deputado, um talvez padre e um talvez
juiz, que caem ensanguentados. Nos talvez, o nosso Canibal é certeiro.
No vídeo também aparecem ministros antigos e atuais e um presidente,
todos reconhecíveis, e aí também o nosso desesperado mete a bala na
câmara. Mas não o vemos a disparar... Perceberam? Adolfo, além de usar
bálsamos também usa advogados. Ele incita, mas na hora de problemas
legais, finta: "Acho muito abusivo alguém pensar que é um apelo à
violência", diz. Claro, claro. Olha, faz-me lembrar o indignado Palito.
Tiros em mulheres desarmadas. Ontem, na hora de ser preso, armado, não
ofereceu resistência... Se fosse cantor chamava-se Inocêncio Candura
Vegetariano. Sonsos, os dois.»
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