quinta-feira, setembro 21, 2006

Apontamento

Visitar os Estados Unidos da América ou conhecer americanos é uma experiência radicalmente diferente daquela que é viver nos EUA. Após o período inicial de absoluto deslumbramento um europeu começa, ainda que quase imperceptivelmente, a constatar as pequenas grandes diferenças que fazem este mundo ser tão diferente do outro.

Os EUA são uma sociedade competitiva. Facto absolutamente incontornável e axioma sugestivo para início de conversa em qualquer cocktail de empresa. Para a tornar competitiva vivem sobre o auspício (verdadeiro e não meramente retórico) da igualdade de oportunidades. A todos é dado oportunidade de vencer, de conquistar, e os que conseguem muito bem, os que não conseguem muito mal, i.e., os que conseguem por isso são admirados e queridos sem qualquer ponta da inveja, hipocrisia ou desdém – não existe o comportamento clássico europeu (sobretudo latino) de “puxar para baixo” ou nivelar pela mediana. Os que não conseguem, apesar das oportunidades, são entregues aquilo que os americanos têm de pior, a solidariedade.

E porque é assim, porque a sociedade americana assenta nesta base, o individualismo é quem mais ordena. Quem está ao meu lado é meu concorrente. Eu estou por minha conta e por minha conta estou, eu não dependo de ninguém nem de ninguém quero depender. Por mais estranho que aparente a um europeu, a amizade não é um conceito indispensável para sobreviver nos EUA, e muito menos é o conceito de família.

A mim tudo isto não me parece necessariamente mau, antes pelo contrário, a Europa está no estado em que se encontra por absoluto imobilismo, pelo horror à competição – no fundo, no fundo somos todos uns grandes amigalhaços – e por teimar que todo o insucesso tem uma explicação.

Por outro lado não significa que tudo seja necessariamente bom, um americano quando o dia acaba tem de sentir uma solidão angustiante. Mas para isso sempre existe Prozac.

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