terça-feira, abril 17, 2007

Miracomando

Muitos foram os que acusaram o último filme de Nanni Moretti de padecer de um simples, mas grave problema: querer ser tudo ao mesmo tempo, terminando em nada. Nada mais verdadeiro, mas também nada mais injusto.

"Il Caimano" pode ser o que bem entender sem nunca se cumprir: pode ser um filme sobre a Itália dos últimos 30 anos e ao ponto a que chegou; pode ser um filme sobre um produtor cinematográfico em apuros que não encontra o seu lugar na actualidade sem ser através de bolorentas retrospectivas históricas; pode ser um filme sobre Silvio Berlusconi e a sua Italietta; pode ser um filme sobre um homem em profunda crise de meia-idade a braços com uma ruptura conjugal insuportável; pode ser um olhar redentor sobre a falência do projecto para o país de uma putativa esquerda - que desde sempre foi parte integrante de Moretti himself, o homem e o cineasta - e respectiva penitência. Enfim, o filme desdobra-se num sem número de visões/propostas sem nunca se preocupar em conclui-las.

A prioridade do seu autor não é essa. Tratam-se apenas de ângulos... o espectador que resolva as suas questões e os seus fantasmas. Para além desta deliciosa esquizofrenia temática, é neste aspecto "Il Caimano" revela-se um filme radicalmente democrático e ainda bem que assim é. Se filmes como este não constituem exemplos de cinema de autor de excelsa qualidade então que venha a colecção integral dos filmes do Michael Bay. Cada um tem o que merece.

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