quinta-feira, junho 01, 2006

Histórias

Uma vez que estou a umas escassas 60 páginas de finalizar a leitura da muy agradável biografia "D. Sebastião, Rei de Portugal" do espanhol Antonio Villacorta Baños-García, chegou a hora certa de fazer uma expedição à 76ª Feira do Livro de Lisboa - Saramago que me perdoe, mas eu sempre gostei de fazer parte de minorias.

Em relação à biografia de "O Desejado" (do que tenho lido o cognome mais correcto seria mesmo "O Destrambelhado"), uma das suas melhores qualidades reside na nacionalidade do seu autor. O facto de estarmos perante um historiador espanhol, um suposto "inimigo de Castela", dá ao leitor português uma nova visão e interpretação dos factos, bem distinta daquela a que está habituado - seja esta proveniente do ensino de História de Portugal nas escolas, seja das diversas abordagens dos historiadores lusos. Este tipo de situação que muitas vezes se estabelece (historiador como outsider em relação aos factos históricos em análise), prova que a dissertação histórica tem grandes variantes e uma das que imediatamente se impõe é a posição do analista face a determinados factos. A cada ângulo, cada visão. O exemplo mais flagrante que conheço deste tipo de casos na literatura histórica ou de história é o fabuloso "As Cruzadas Vistas pelos Árabes" de Amin Malouf. Desde que li o livro do libanês a minha percepção das e sobre as cruzadas mudou radicalmente, ou seja, uma vez que se tem acesso a um ponto de vista diferenciado do nosso, a percepção das coisas molda-se à novidade, aos novos dados, às novas interpretações e novas fontes. Irremediavelmente modificasse a visão global de determinado facto ou acontecimento. Tudo uma questão de pontos de vista.

Mas em relação a um ponto determinado do reinado de D. Sebastião, nem a visão castelhana de Antonio Villacorta Baños-García muda o que seja. É certo e sabido que depois do desaparecimento do rei moleque, aqui por Portugal, as coisas foram sempre a descer. Sempre, sempre a descer.

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