quinta-feira, março 31, 2005

Dá-me o seu autógrafo?


6 razões para adorar incondicionalmente Annabella Gloria Philomena Sciorra:

1) Foi Angie Tucci no "Jungle Fever" do Spike Lee;
2) Foi Jeanette Tempio no "The Funeral" do Abel Ferrara;
3) Foi Gloria Trillo na série "The Sopranos";
4) Sempre fez o que bem entendeu;
5) É Italo-Americana;
6) É morena.

O Código do (roubar para a) Estrada

Está aí o novo Código da Estrada, novo salvo seja, na verdade a única coisa que mudou no dito foi o nº3 de cada artigo, aquele que diz “quem infringir o disposto nos números anteriores é sancionado com uma coima de x€ a y€”.

Este Código da Estrada podia (ou foi) alterado pelo Ministério das Finanças, não há qualquer vestígio do Ministério da Administração Interna ter tocado neste diploma.

É uma experiência única ler o preâmbulo do diploma (onde o legislador se digna a explicar as razão de tão nobre lei nova); assim a facilidade do acesso ao automóvel, a melhoria das vias de comunicação, o aumento de velocidade média praticada em razão da evolução dos veículos leva a que o Código da Estrada necessite de ser revisto por forma a garantir a segurança rodoviária e a prevenção dos acidentes.

Esperando nós, comuns condutores, mudanças revolucionárias como aulas de civismo de condução desde a primária, controlo exemplar sobre as escolas de condução que dão 2 aulas de Código e assinam 30, revisão dos limites de velocidade fora das localidades e em determinadas zonas dentro das localidades para velocidades realistas e ainda seguras, escolaridade obrigatória para obter licença de conduzir, trânsito alternativo/condicionado dentro e fora das cidades para pesados de mercadorias, o que é que recebemos…

“Em face desta realidade consagra-se um novo escalão sancionatório” (legislador dixit). São novos escalões para a velocidade, são novos escalões para o álcool, para o telemóvel…

Em tempos recentes, e não tão recentes, a aplicação de coimas não serviu para mitigar ou atenuar a taxa da sinistralidade porque é que este novo aumento o fará?

Este Inverno dizem que foi o ano com a menor sinistralidade de sempre. Logo surgiram os membros do MAI, DGV, PSP, GNR, a darem pancadinhas nas costas uns dos outros – este ano deu resultado hein! –

Esquecem-se – ou fazem por esquecer - que este ano foi o ano mais seco de chuva, ou seja, pluviosidade nula.

Estou a contar que, perante este estado de coisas, num futuro próximo, os agentes de autoridade montem barraquinha nas estações de serviço, com terminal Visa, Multibanco e esplanada para refrescos enquanto preenchem a papelada.

Estava-me a esquecer de uma coisa (e assim consegui começar todos os parágrafos por E), a mais importante delas, o Código resolveu, finalmente, uma questão doutrinária secular entre os foristas – defendiam que a circulação nas rotundas era sempre feita por fora – e os dentristas – a circulação nas rotundas era de dentro para fora – ganharam os primeiros.

quarta-feira, março 30, 2005

Tudo a piar fininho

Porque não aprovar um Código da Estrada quinzenalmente?
Ou mesmo semanalmente?!

Bobby!!!!

Robert Mugabe, Presidente do Zimbabwe, sobre as eleições legislativas de amanhã no país, em discurso na 59ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (Setembro de 2004):

"These elections will be conducted in accordance with our national laws and the Southern African Development Community Principles and Guidelines governing Democratic elections. Zimbabwe will welcome to these elections those observers whose sole and undivided purpose will be to observe the process and not meddle in the politics of the country".

Olhe desculpe... importa-se de repetir?

"These elections will be conducted in accordance with our national laws and the Southern African Development Community Principles and Guidelines governing Democratic elections. Zimbabwe will welcome to these elections those observers whose sole and undivided purpose will be to observe the process and not meddle in the politics of the country".

Sucesso garantido ou talvez não

Na revista Única desta semana vem um artigo sobre um software de computador que permite com bastante precisão calcular a probabilidade de sucesso de uma música. Este programa analisa 20 variáveis entre as quais a harmonia, melodia e tempo comparando-a depois aos sucessos musicais dos últimos trinta anos. Segundo o artigo as editoras portuguesas desconhecem-no. A sério? Nunca imaginei.Com tantos sucessos! Pensei que já o usavam mas não diziam nada para serem os únicos com tantos hits.
Não digo que isto seja um processo muito romântico, mas na música pop seria pelo menos interessante as editoras portuguesas conhecerem este programa. Uma ajuda, está disponível em http://www.hitsongscience.com/ e custa só 50€ por música.

Leoa com a sua cria


"Donna con bambino seduta o Maternitá" de Amedeo Modigliani (1919)

Adenda ao post anterior

Assaltou-me uma dúvida depois de escrever o "post" Segundas vidas.

Se Manuel Maria Carrilho ganhar as eleições à C.M.L como é que vai resolver o problema do túnel?

Recorrerá ao método indutivo ou ao método dedutivo?

Ou será que vai lançar mão da "bomba atómica da Filosofia", a maiêutica?

Chrissie Hynde infectada com o vírus da raiva


"Fever to Tell" dos Yeah Yeah Yeahs

TAXI!


De leitura obrigatória para os militantes do CDS/Partido Popular.

Ainda a polémica sobre Campo de Ourique

Recomendo a todos os que seguem este blog que leiam com atenção o post do Domingos sobre Campo de Ourique, assim como a polémica que se gerou nos comentários. São desde já convidados a deixar lá a vossa opinião.

terça-feira, março 29, 2005

Segundas Vidas

"O Secretariado Nacional do PS vai aprovar amanhã as candidaturas de Manuel Maria Carrilho à presidência da Câmara de Lisboa e de Francisco Assis à presidência da autarquia do Porto, disse à Lusa fonte da direcção socialista."


Mansa, mansa e lentamente eis que os guterristas, depois de longas travessias em federações nacionais, comissões eventuais e outras tais, são recompensados com a alvorada socrática.

Risco não seguro

Amigo desta casa, estrangeirado, a ler por total conta e risco do utilizador:

http://hospiciofundodireita.blogspot.com/

Afinal de loucos temos todos um pouco.

É p'ró menino, é p'rá menina!

Aconselha-se que todos se apressem a conseguir um lugar entre os 1500 novos estagiários anunciados pelo novo Governo (será mesmo novo?!?). Pelo menos, no que toca a estágios públicos, a minha experiência é imoralmente maravilhosa: laptop, dinheiro no bolso, vôos para lá, vôos para cá... um fartote! Para cúmulo meteram-me no Brasil para trabalhar.

Só de me lembrar que diziam que os seleccionados faziam parte da nata da nata dá-me arrepios. Tive o meu pico cedo demais é o que é... agora, com apenas 27 anos, já estou na fase descendente da minha carreira (suspiro).

E! vs. TVI nos Julgamentos

O canal E! está a fazer o reenactment do julgamento de Michael Jackson, não sei porque é que nenhum canal português, principalmente a TVI, ainda não agarrou neste excitante formato. Seria muito mais interessante ver no serão televisivo o julgamento da Casa Pia, com o sósia de Carlos Cruz a fazer de Carlos Cruz, um treinador das distritais a fazer de Bibi (tinha de usar aquele casaco das primeiras declarações de Bibi à Sic) e Júlio Isidro no papel de Adelino Granja. Espero sinceramente que esta ideia não caia em saco roto e que um visionário director de programas nos presenteie com esta maravilha.

P.S. – Quem não acreditar vá ao link http://www.eonline.com/News/Specials/Jackson/index.html?fdfour3

Falar de música

Irá decorrer na Culturgest um ciclo de conferências sobre musica.
"Especulações Críticas Sobre Cinco Momentos da Música do Século XX
por António Pinho Vargas
Partindo de uma temática particular em cada um dos cinco momentos estas especulações críticas levantam hipóteses novas ou mesmo heterodoxas sobre a música do século XX. Face às narrativas artísticas e ideológicas auto-construídas procura-se levantar alguns véus e propôr visões alternativas em relação aos discursos habituais
."
Recomendo vivamente as conferências de dia 20 e 27 de Abril sobre música dos anos 60 e 80. Para conhecer mais visitar http://www.culturgest.pt/

Jay O'Brien

Tenho hoje para mim que o "Late Night Show" do Conan O'Brien é melhor que o "Tonight Show" do Jay Leno.
O Conan usa um humor muito mais corrosivo, quase a raiar a insolência, enquanto o Jay está numa fase mais adiantada onde já só se limita a passar a mão pelo pêlo dos que lá passam.
Ora, isso reflecte-se nos convidados de um e de outro, enquanto o Jay recebe Hollywood em peso, o Conan tem de se aguentar com a Broadway.
Só um pequeno senão, o Kevin Eubanks é 20 vezes melhor que o Max Weinberg.

segunda-feira, março 28, 2005


Se alguém souber onde anda Olaf Marshall avise-me

Jack Jonhson parte 2

No seguimento do post do Diogo, não posso deixar de dizer algumas palavras sobre este artista. Jack Jonhson está numa encruzilhada. Por um lado é um surfista rebelde, liberto dos valores materiais supérfluos, por outro faz uma música totalmente consentânea com os cânones pop. Esta posição cheira a esturro. Não condeno ninguém por enveredar por uma posição mais comercial, pelo contrário acho isto louvável. Ir por este caminho mas assumir uma imagem contrária ao pop é que me parece um logro. Se calhar já é tempo dele tomar uma de duas posições: Arriscar na música que compõe ou sair daquela postura de one with nature.

Carlos Alberto Moniz versão surf

Não gosto de unanimidades. Não gosto, nunca gostei e sempre fui peremptoriamente contra aquela corrente que acredita piamente que elas são úteis. Não são e opõem-se a tudo o que é valores da democracia. Discutir é bom e saudável. Eu pelo menos faço por ir contra elas (as unanimidades claro). Sinto-me confortável a criticar, a deitar abaixo, de ser do contra e recomendo vivamente qualquer pessoa a experimentá-lo.

Tudo isto vem a propósito do Jack Johnson. Resolvi aproveitar todas as potencialidades, justas ou não, de um blog (afinal pudemos escrever tudo o que se quisermos, sem dar satisfações a quem quer que seja) e decidi desancá-lo. Desta vez toca ao surfeco. Azar! Para a próxima com certeza a fava calha a outro/a. De momento a vítima está escolhida, e há que encarar a sessão como um homenzinho.

Começo por dizer que nunca fui um fã do elemento (antes pelo contrário), mas também nunca me choquei com nada que ele tenha feito musicalmente. O rapaz até tem uma voz decente, um aspecto apresentável e move-se num meio que muito respeito… afinal sou amante de tudo o que é desporto (andebol talvez não, mas adiante). No entanto a coisa fica-se por aqui. A partir de agora, pega-se na serra eléctrica e começa a sessão do serrote.

Há que dizer que a música do Jack Johnson é de um aborrecimento sem precedentes. Toda aquele ambiente de estar à volta da fogueirinha com a guitarra, a cantar sobre o amor, a paz, a natureza, as ondas, as tristezas da vida, o sol ou sobre o que raio seja, causa em mim um sensação de perda de tempo constrangedora. Não que tenha alguma coisa contra guitarras acústicas, folk ou o que for que o rapaz pensa que faz nos seus discos. Robert Zimmerman revolucionou o mundo com a sua guitarra fajuta e eu adoro a música do senhor. Mas é neste ponto que reside a minha irritação em relação ao surfeco. É uma música acomodada, preguiçosa, de bem com a vida, indo contra tudo o que acredito que música deve representar, tanto em relação a quem a faz, como em relação a quem a ouve. Por isso comecei este texto a falar das unanimidades. A música do Jack é fácil, é consensual, é unânime e por isso reservo-me ao direito de não gostar dela.

Sempre fui daqueles que gostam das personagens musicais não alinhadas. Gosto dos vilões e quanto mais feios, porcos e maus melhor. Seja na pop, no rock, no metal, no rap/hip-hop, no que for. Gosto de linguagens arriscadas e exploratórias. Ora tudo isto é exactamente o contrário do que o Jack faz. A música dele não podia estar mais longe destas considerações. O rapaz tem um som que foge do risco como o diabo foge da cruz, ele próprio apresenta-se numa complacência gritante e a sua música é tão conciliadora que chega a ser penoso o exercício de a ouvir. Em última análise colide com tudo o que a música devia ser: um verdadeiro «walk on the wildside», seja no formato A, seja no formato B. Convenhamos, o rapaz é tão chato, tão chato, tão chato que se fosse um automóvel seria um Renault Clio.

Só para concluir, acho que só me fica bem esclarecer que com certeza absoluta haverá muitas mais coisas na música actual bem piores (e como!) do que o que o surfeco faz. Dou esse dado de borla. Mas o problema é que a grande parte das misérias musicais que por aí andam não são unanimidades. O Jack é uma. E eu, como já se constatou, não gosto de unanimidades.

Para os fãs do fulano, as minhas desculpas.

Não! Retiro o pedido de desculpas. Metam gelo e vão ouvir música como deve ser. E agora, se me dão licença, vou pôr o “Antichrist Superstar” dos Marilyn Manson. Esses sim!!! Feios, porcos e maus como se querem!

Bloco de Direita

A ideia não é minha mas concordo totalmente com ela. A criação de um movimento, que defenda ideias concretas e exequíveis no plano económico, com o mercado como motor da economia e o estado um elemento regulador. A grande diferença estaria na liberalização do plano ideológico, ou seja, um partido que defendesse a liberdade de escolha, afastando-se da Igreja e de valores morais muito rígidos. Esta ideia de liberdade individual não é monopólio dos partidos de esquerda, tem é sido esquecida pelos partidos de direita e aproveitada pelos restantes.
No fundo este bloco é mais ou menos o que o PS está a tentar fazer neste governo. Agora é preciso que alguém queira tomar para si este projecto.

Fumos

Inês Pedrosa in Revista Única (Expresso), 11 Outubro 2003

«O nosso problema é sermos iguais aos cigarros cuja marca deixámos agora perder; portugueses suaves, sim. Demasiado suaves — tanto que permitimos que os burocratas da Europa riscassem o «suave» do maço de tabaco que nos singularizava. Como se suave fosse sinónimo de «light». Como se não pudéssemos decidir morrer suavemente — morrer devagar, como escreveu o poeta. Sou insuspeita nessa saudade, deixei de fumar há quase um ano. Mas recordo a felicidade de Caetano Veloso, em 1985, quando lhe ofereci um Português Suave — recordo que, por causa do encanto com essa marca («Um cigarro onde se concentra o temperamento do país, veja só que ideia genial!») ele sorriu e prolongou mais uma hora a entrevista que já estava a exceder o cronómetro previsto. Quando deixa de ser suave, o português torna-se manso, que é uma variante perigosíssima, intradiplomática, da sonsidão. Mal se descuida, o sonso torna-se insonsso. Ora, quem não tem sal não cruza mares nem faz germinar a terra.»

Cá vai o último parágrafo de um dos magníficos artigos da Inês Pedrosa, e que mantenho guardado já há uns tempos junto a dois maços do «Português Suave» com o nome à antiga. Qualquer dia fumo tudo.

sábado, março 26, 2005

A Orelha de Van Gogh

Na Sicília, sempre que alguém quer desafiar outra pessoa para um duelo embarca numa coreografia aproximada do ritual de acasalamento de animais. Primeiro medem-se, avançam um para o outro, apertam as mãos e depois um deles morde a orelha do outro (aí o caldo está definitivamente entornado).


Isto a propósito da ópera "Cavalaria Rusticana" que vi ontem no S. Carlos. A ópera desenrola-se na Sicília onde a traição (mulheres como sempre) leva a que um homem desafie outro mordendo-lhe a orelha.

Cheguei a casa e, embalado, fui ver o Padrinho III. Vincent Mancini (Andy Garcia) morde a orelha a Joey Zasa (Joe Mantegna) depois do ritual.

Isto tudo para dizer duas coisas:

1-A "Cavalaria Rusticana" de Mascagni está para a ópera como a "Macarena" dos Los Del Río está para a pop. São dois one hit wonders.

2-O "Padrinho III" está a envelhecer muito bem. Não me admirava que daqui a uns anos fosse posto ao nível do II.

quinta-feira, março 24, 2005

Vítor Rainho/Luís Delgado

Em principio estas duas pessoas não teriam ligação, mas para mim têm. São os únicos cronistas que eu leio exclusivamente para me irritar. Não sei porque é que continuo a ler mas não consigo parar.
Vítor Rainho oscila nas suas crónicas entre assuntos perfeitamente absurdos (no outro dia estava a dormir e um amigo seu telefonou-lhe para ir beber um copo) e a descrição de festas de qualidade bastante duvidável (Kiss e companhia). Tem uma noção de noite totalmente desactualizada e desencontrada com a realidade, mas o que é que ele comenta … Noite.
Luís Delgado depois da maratona de auto humilhação, defendendo até à exaustão o indefensável começa, qual gata com cio, a roçar-se nas pernas do executivo de Sócrates.
No governo PSD chegou a ser divertido ler e ouvir os seus comentários, principalmente quando deixava o papel de comentador e assumia o papel de amigo do Pedro. Agora quando, todos pensavam que tinha chegado a sua hora e que iria acompanhar o seu amigo Pedro num desses empregos de luxo que ele tanto anunciou, dá uma volta de 180 graus e começa de mansinho a elogiar a prestação do novo governo na assembleia. Se eu fosse o seu amigo Pedro enviava a sua fotografia para a sede do PS.
Agora vou-me embora porque tenho de ir ler a crónica do Vítor Rainho na Única para me irritar um bocado.

Alice no País das Maravilhas

De entre as melhores recordações de infância que tenho (aquelas que comoventemente recordo e que mais me marcaram para o resto da vida), estão as dezenas e dezenas de fins de semana ou dias de férias que passei a vaguear na loja de discos do meu avô materno, situada na Rua Serpa Pinto em Santarém. Numa época em que o vosso modesto escriba ainda não passava de um puto (a descobrir tudo e todos), aquele espaço era um verdadeiro lugar mágico para mim. É mesmo assim. Mágico! Uns tiveram a quinta dos avós, o sótão da casa de família ou o quintal da vivenda de verão. Eu tive a loja do avô.

A loja do Manuel dos Reis Torgal chamava-se FRILUX (de frio e luz). No início, meados da década de 60, começou por ser um estabelecimento focado para a venda de electródomésticos como frigoríficos, torradeiras, candeeiros, gira-discos, gravadores, tv's, etc, etc. Era a época em que meia Santarém se juntava na montra da loja para ver o Benfica do Eusébio na caixa mágica, aparelho (adoro esta palavra) que muito poucos se podiam dar ao luxo de ter em casa. Com o passar do tempo e com a (feliz) massificação do negócio dos artigos eléctricos, o Manuel decidiu-se pelo câmbio de rumo do negócio. Próxima paragem: vender discos. Vender música! Assim criava-se (na minha opinião) a única discoteca minimamente decente para comprar discos em Santarém... e o Manuel passava a ser o Manuel dos discos.

Este breve histórico serve apenas para situar o generoso leitor. É aqui que entro no quadro. Eram os anos oitenta prego a fundo contra a parede de betão contra a qual acabariam por bater e eu, com a minha precoce idade, tinha naquela discoteca o meu parque infantil. É naquela loja, naquela época, que a música entra na minha vida. Mas entra não de uma maneira despretenciosa, sem intenções. Não! Entra de forma maliciosa, viciante e mal itencionada. Afinal estamos a falar da violenta corrupção de um míudo de 6, 7 ou 8 anos. É aí que começa a minha dança com discos, autores, músicas, cd's (bem mais tarde), letras, capas, produtores, concertos, distribuidoras, video-clips, fotos, etc, etc, etc. Basicamente estava aberto o caminho para a criação de um pop junkie. Zero de inocência.

Passava os fins de semana quase que integralmente enfiado naquele espaço. A chatear as pessoas para me deixarem estar atrás do balcão e fingir que atendia clientes, a ouvir discos, a gravar cassetes, ajudar a minha avó a fazer a lista do stock que se tinha de ir buscar a Lisboa, colar os últimos posters nas paredes, ouvir e aprender tudo o que podia com o empregado João e com os amigos dele, que por lá passavam para trocar umas ideias, etc, etc, etc.

Eram os meus tempos de descoberta! Bom ou mau... tudo era novo. E a necessidade era essa mesma. Conhecer tudo o que era novo.

Eram uns tempos em que um cliente punha a loja toda a ouvir o disco que tinha pedido para audição.
Uns tempos onde a Laura Branigan (que Deus a tenha) ainda vendia discos.
Uns tempos em que tremia de medo só de olhar para as capas dos álbuns dos W.A.S.P.
Uns tempos em que gravava cassetes com coisas tão díspares como Ramones, Kim Wild, Zeppelin, Rádio Macau, Barclay James Harvest...
Uns tempos em que o Morrisey dizia que todos os dias eram como o Domingo.
Uns tempos em que os irmãos William e Jim Reid andavam em piloto Automatic.
Uns tempos onde o Bob Geldof queria mudar o Mundo.

Enfim... uns tempos que já não o são.

(Dedicado ao Manuel dos discos e à sua esposa)

Sampa... 31 de Janeiro de 2003

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e Av. São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mas possível novo quilombo de Zumbi
E os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

"Sampa" de Caetano Veloso


Não me lembro de melhor definição.

Marcus José Fernandes AKA CopKiller

"De acordo com uma fonte policial, um Peugeot 206 aproximou-se lentamente e parou. Um dos 4 passageiros, de óculos, baixo e entroncado, saiu e foi abrir o portão. Não teve tempo. Um dos inspectores disparou pelo menos um tiro de intimidação para o ar. Marcus congelou. Pôs as mãos na cabeça, sentou-se no chão e rendeu-se, sem oferecer resistência."

Marcus Fernandes foi o presumível autor dos disparos que provocaram a morte dos dois polícias da Amadora.

É impressão minha ou tanto o Marcus como o Inspector não andam a ver muitos filmes americanos?

Curta

Quanto mais tempo pensares menor a probabilidade de errar.
Desde a 4ª classe que nos ensinam isto...
e ainda não aprendi.

Há qualquer coisa em Campo de Ourique...

Não será uma zona nobre como o Chiado, uma zona chique como a Lapa, ou uma zona moderna (ou nem tanto) como a Avenida de Roma. Mas que não deixa ninguém indiferente é seguro.

Tavez o facto de numa cidade feita de prémios montanha, existir um refrescante planalto, saudavelmente organizado, ajude.

Mas são as pequenas coisas que fazem a diferença e que não dispenso.

Desde que conheço Campo de Ourique conheço as mesmas lojas, os mesmos restaurantes e os mesmos cafés, numa teimosia obstinada ao passar do tempo. A "Alcalá" da Almeida e Sousa, o "Eduardo dos Livros" na Tenente Ferreira Durão, a Ler" na 4 da Infantaria, o "Canas" na Saraiva de Carvalho, ou o "Értilas" e a "Tentadora" na Ferreira Borges.

Todos os que tentaram ensinar a esses habitantes novos hábitos e costumes... falharam. Disso exemplo será a passagem meteórica da loja "Mariana" pela Ferreira Borges, não durou mais que os restos de perú congelado do Natal 2004. Ou o "Café di Roma" da mesma rua que não serviu bicas o suficiente para aquecer um Inverno.

Temos, também, a religião. Que bairro se pode orgulhar de ter mais templos do que o somatório de todos os existentes nos bairros adjacentes? É nos Prazeres, é em Santa Isabel e será em Santo Condestável só para falar dos mais imponentes. Falamos de um aparente pulsar de fé incomparável.
E por falar em religião, que outro bairro tem mais referência à República? O "pulmão verde" é da parada (militar) que ostenta, orgulhosamente, um vigoroso seio republicano. A 4ª e a 16ª Infantaria dispensam apresentações. E para rematar a primeira bomba do 5 de Outubro tinha logo de cair na esquina da Rua do Patrocínio... Duarte Pio e sua prole não devem ser assíduos da Ferreira Borges aos Sábados à tarde.
Depois existem coisas verdadeiramente inquietantes. O quartel de bombeiros ser em frente a um lar para cegos e a taxa de sinistralidade rodoviária ser zero é, no mínimo, milagre (lá está o efeito dos templos).
Campo de Ourique não tem estacionamento, pois não. Só tem cinemas em ruínas, pois só. O estádio de Alvalade é longe, pois é. Mas sinto-o como se fosse meu...

quarta-feira, março 23, 2005

Aos meus parceiros...

"A friend is a person with whom I may be sincere. Before him I may think aloud."

Ralph Waldo Emerson

Uma Imagem de esperança


Bons velhos tempos

Jorge Fernando, Fernando Pereira, Olga Cardoso, António Sala, Cândida Branca-Flor, o marido da Valentina Torres, José Cid e José Malhoa.Obrigado a estes artistas por nos mostrarem o quanto a música portuguesa melhorou nos últimos anos.

História da música electrónica

Este link, http://www.di.fm/edmguide/edmguide.html, dá acesso a uma página onde se pode conhecer a evolução da música electrónica desde os anos 70 até aos nossos dias. É necessário ter presente a dificuldade de catalogar música de uma forma estanque, sendo esta apenas uma das muitas formas de a dividir.Fora o trance e o hardcore vale a pena perder um tempo a explorar o site.

A cooperativa

O nome a cooperativa, não é uma alusão aos tempos da reforma agrícola, quando uns senhores de patilhas diziam “agora esta enxada já não é sua, é da cooperativa”.

David Brent (the office)

“What is the single most important thing for a company? Is it the building? Is it the stock? Is it the turnover? It’s the people, investment in people. My proudest moment here wasn’t when I increased profits by 17%, or cut expenditure without losing a single member of staff. No. It was a young Greek guy, first job in the country, hardly spoke a word of English, but he came to me and he went ‘Mr. Brent, will you be the Godfather to my child?’.Didn’t happen in the end. We had to let him go, he was rubbish. He was rubbish!”
Brent

“If a good man comes to me, and says thank you David, for the opportunity and continued support in the work-related arena, but I’ve done that, I wanna better myself, I wanna move on, then I can make that dream come true, to, AKA, for you.”
David

Quem conhece esta série vai adorar o blog http://homepage.mac.com/elliottday/theoffice/index.html , quem não conhece, vá comprar o dvd.

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