segunda-feira, março 28, 2005

Fumos

Inês Pedrosa in Revista Única (Expresso), 11 Outubro 2003

«O nosso problema é sermos iguais aos cigarros cuja marca deixámos agora perder; portugueses suaves, sim. Demasiado suaves — tanto que permitimos que os burocratas da Europa riscassem o «suave» do maço de tabaco que nos singularizava. Como se suave fosse sinónimo de «light». Como se não pudéssemos decidir morrer suavemente — morrer devagar, como escreveu o poeta. Sou insuspeita nessa saudade, deixei de fumar há quase um ano. Mas recordo a felicidade de Caetano Veloso, em 1985, quando lhe ofereci um Português Suave — recordo que, por causa do encanto com essa marca («Um cigarro onde se concentra o temperamento do país, veja só que ideia genial!») ele sorriu e prolongou mais uma hora a entrevista que já estava a exceder o cronómetro previsto. Quando deixa de ser suave, o português torna-se manso, que é uma variante perigosíssima, intradiplomática, da sonsidão. Mal se descuida, o sonso torna-se insonsso. Ora, quem não tem sal não cruza mares nem faz germinar a terra.»

Cá vai o último parágrafo de um dos magníficos artigos da Inês Pedrosa, e que mantenho guardado já há uns tempos junto a dois maços do «Português Suave» com o nome à antiga. Qualquer dia fumo tudo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Seja bem aparecido meu caro. Diogo aka o Torgal

Anónimo disse...

Tal como a tua estreia...suave, mas não mansa. Muito bom!

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