quarta-feira, maio 18, 2005

O poder da facada

No último domingo à noite (dia 15 de Maio) terminou a primeira digressão nacional do projecto A NAIFA. No pequeno auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) Luís Varatojo, Miguel Aguardela e Cª. confirmaram tudo o que se tem escrito e dito sobre a sua proposta musical: que são uma verdadeira benção no panorama musical português actual.

21h30. Com o pequeno auditório do CCB cheio e com 30 (perdoáveis) minutos de atraso, começa o último espectáculo de A NAIFA, terminando assim a aclamada digressão nacional iniciada a 15 de Março na Casa da Cultura de Beja.

A escolha de Lisboa para terminar o périplo nacional constitui tudo menos um acaso. Estamos a falar de um projecto com raízes intrinsecamente alfacinhas e nada seria mais natural que acabar as hostilidades no lugar onde todo o universo de A NAIFA faz mais sentido. As tabernas, o fado, os bons malandros, a guitarra portuguesa, Alfama...

O espectáculo é de uma simplicidade absolutamente brilhante. Ao mesmo tempo que parece que estamos a assistir à performance minimalista de quatro músicos sem qualquer tipo de artifícios, a meio de cada música, têm-se a sensação de entrar no mundo criado por cada música, por cada história, por cada viagem. A teatralidade ultra subtil de cada um dos quatro magníficos em palco assume o comando, tornando a experiência inesquecível. Miguel Aguardela (baixo), com a sua postura desafiante e marialva; Vasco Vaz, que faz da percussão um exercício de rara sensibilidade; Luís Varatojo prova que é possível fazer da guitarra portuguesa um instrumento de uma rebeldia indomável; e por fim, Mitó apresenta-se com um dos segredos mais bem guardados da música lusa dos últimos tempos (saiba o país dar valor e proteger esta menina). A partir daqui assistiu-se a um extraordinário desfile de «Canções Subterrâneas», que só peca por curto. Curto não o espectáculo. Curto o prazer. Talvez seja este o único pecado do pessoal de A NAIFA. Deviam ter mais dois ou três álbuns para tocar, tocar e tocar...

Por uma noite, nada esteve a mais, nada esteve a menos. Apenas boa música moderna portuguesa.

Sem comentários:

Seguidores

Arquivo do blogue