quinta-feira, março 24, 2005

Há qualquer coisa em Campo de Ourique...

Não será uma zona nobre como o Chiado, uma zona chique como a Lapa, ou uma zona moderna (ou nem tanto) como a Avenida de Roma. Mas que não deixa ninguém indiferente é seguro.

Tavez o facto de numa cidade feita de prémios montanha, existir um refrescante planalto, saudavelmente organizado, ajude.

Mas são as pequenas coisas que fazem a diferença e que não dispenso.

Desde que conheço Campo de Ourique conheço as mesmas lojas, os mesmos restaurantes e os mesmos cafés, numa teimosia obstinada ao passar do tempo. A "Alcalá" da Almeida e Sousa, o "Eduardo dos Livros" na Tenente Ferreira Durão, a Ler" na 4 da Infantaria, o "Canas" na Saraiva de Carvalho, ou o "Értilas" e a "Tentadora" na Ferreira Borges.

Todos os que tentaram ensinar a esses habitantes novos hábitos e costumes... falharam. Disso exemplo será a passagem meteórica da loja "Mariana" pela Ferreira Borges, não durou mais que os restos de perú congelado do Natal 2004. Ou o "Café di Roma" da mesma rua que não serviu bicas o suficiente para aquecer um Inverno.

Temos, também, a religião. Que bairro se pode orgulhar de ter mais templos do que o somatório de todos os existentes nos bairros adjacentes? É nos Prazeres, é em Santa Isabel e será em Santo Condestável só para falar dos mais imponentes. Falamos de um aparente pulsar de fé incomparável.
E por falar em religião, que outro bairro tem mais referência à República? O "pulmão verde" é da parada (militar) que ostenta, orgulhosamente, um vigoroso seio republicano. A 4ª e a 16ª Infantaria dispensam apresentações. E para rematar a primeira bomba do 5 de Outubro tinha logo de cair na esquina da Rua do Patrocínio... Duarte Pio e sua prole não devem ser assíduos da Ferreira Borges aos Sábados à tarde.
Depois existem coisas verdadeiramente inquietantes. O quartel de bombeiros ser em frente a um lar para cegos e a taxa de sinistralidade rodoviária ser zero é, no mínimo, milagre (lá está o efeito dos templos).
Campo de Ourique não tem estacionamento, pois não. Só tem cinemas em ruínas, pois só. O estádio de Alvalade é longe, pois é. Mas sinto-o como se fosse meu...

14 comentários:

Diogo aka o Torgal disse...

Tenho que mostrar este post em casa da tua vizinha... que por acaso é minha avó.

Anónimo disse...

A Francisca tem dois filhos estupendos – a Madalena e o Lourenço. É casada com Bernardo, o homem da sua vida, que é fantástico e que “me ajuda imenso”.
Desde nova que adora crianças e acabou por tirar o Bacharel de Educadora de Infância. Considera-se uma sortuda porque trabalha no Colégio Salesianos e consegue estar o dia todo com os pequeninos, que a deixa “super descansada”.
Vivem numa casa amorosa, cujas paredes amarelo-esponjado foram pintadas pela amiga Cuca que tem uma jeiteira de mãos e adora ajudar. O chão é de tacos de madeira e em algumas divisões é coberto por tapetes de arraiolos herdados da tia Bibinha, tia-avó de Bernardo. Também herdados foram os quadros de caça, estilo inglês, cujo passpartout verde garrafa faz um contraste lindo com o amarelo esponjado das paredes. “Ainda vou convencer o Bernardo a por aquele papel de parede lindo que vi na Prata e Casa!”.
A Francisca e o Bernardo adoram-se, adoram os seus “pequeninos”, e mais importante que tudo, adoram o bairro onde vivem! “Está tudo à mão! Farmácias, drogarias, pastelarias óptimas..Ah! E é só pessoas conhecidas. Não há um dia que vá ao Pingo Doce e que não encontre alguém!”.
As manhãs começam sempre com o pequeno almoço juntos, e juntos vão para o Colégio. Bernardo, Delegado Comercial na Santomar, leva a família todos os dias ao colégio.
Foram diversas as vezes que pensaram em comprar um carro para Francisca, mas chegam sempre à conclusão que não vale a pena – “para quê?! De casa ao colégio são 10 minutos no máximo! E os pequeninos gostam sempre de passar pelo Jardim da Parada ao fim do dia. Não é por acaso que a primeira palavra que o Lourenço balbuciou foi Cão! Que amor!”.
O dinheiro poupado no carro é canalisado para as férias grandes. “As melhores do mundo!”. Todos os anos, Bernardo,juntamente com os irmãos, alugam uma casa em São Martinho do Porto. O auge das férias são os Jogos de Verão e o Baile da Chita –todos participam!
Uma vez que tem férias escolares, Francisca passa a última quinzena de Julho com a sogra e os sobrinhos em Moledo. “É o estágio para São Marinho”. “A Tia Ginha é amorosa e aluga uma casa para os netos. É A balbúrdia, mas os pequeninos deliram”.


Podia perfeitamente ser um trecho do “Vestido de Lantejolas” da Rita Ferro. Mas é apenas um ensaio sobre a família-tipo de Campo D’Ourique.
O meu ódio por Campo D’Ourique tem muitos anos, mas está numa fase particularmente aguda.
São dois os principais motivos que me fazem odiar Campo D’Ourique: as pessoas e “o bairro”.
Em primeiro lugar, as pessoas! Caturras de classe média, ridiculamente pouco ambiciosos, cuja apoteose das suas vidas são as tais férias em São Martinho do Porto. Quando digo ambição, não é num sentido de calculismo frio e irracional, mas na perspectiva de crescimento e valorização pessoal, social e cultural.
Certamente que há excepções, mas garanto-vos que a maioria dos homens de Campo D’Ourique são Bernardos, vendedorezecos de automóvel.
Para além deste padrão de comportamento das famílias, acresce a densidade com que elas existem – são mais que às mães! Será possível, caído da cama, desçer à pastelaria por baixo de casa e dar de caras com a Xaxão ou com a Constancinha filha do Zé Lourenço?! E a privacidade? Que inferno!
O outro motivo pelo qual odeio Campo D’Ourique, e que considero um verdadeiro insulto à cidade de Lisboa, é o facto de os caturras que lá habitam se referirem ao seu bairro como se de um verdadeiro bairro se tratasse.
É imperativo para um bairro ser verdadeiro, ter o seu tecido urbano classificado com malha irregular. Basta que as ruas façam ângulos de 90º graus para que um bairro deixe de ser o verdadeiro bairro.
Alfama é um bairro. Madragoa é um bairro. O Bairro Alto é um bairro. Porque são genuínos e as suas ruas cresceram de forma desordenada e irregular. Existia uma rua, depois, como já não havia espaço na primeira para a padaria, fez-se uma segunda, e por aí em diante. É uma ideia primária de crescimento urbano, mas que efectivamente está na génese da mística de um verdadeiro bairro. A roupa pendurada, a TV das velhinhas aos berros, etc etc.
Não brinquem comigo (nem com os verdadeiros bairros) quando dizem que Campo D’Ourique, esse bairro de classe média e malha urbana ortogonal é um verdadeiro bairro!

O que me deixa mais aflito, daí ter referido estar numa fase mais aguda no que diz respeito ao ódio, é que as novas gerações continuam a adorar Campo D’Ourique. Como é que é possível!? Ingenuamente pensava que, a partir do momento em que os inúmeros amigos que tenho em viver em Campo D’Ourique se emancipassem, certamente iriam tomar a sua opção e abandonariam o bairro dos seus pais. Mas não! Efectivamente os meus amigos, que by the way até são muito cool e mais-não-sei-quê, querem continuar a cruzar as ruas simétricas e a sentir o cheiro a bosta do Jardim da Parada.

Enfim....apesar de não estar resignado e de não ter desistido da luta, já me imagino a jantar na mesa Companhia do Campo do Joãozinho, uns estupendos panadinhos com arroz de pimentos da Sopa Amarela.

Valha-me Deus!

Para concluir esta que foi a minha primeira intervenção n’A Cooperativa, deixo o meu bem haja aos seus redactores. É uma iniciativa muito interessante e que fazia falta. Na verdade muitos assuntos importantes e ideias geniais são discutidas em foruns de amigos nas noites de bebedeira mas, derivado às circunstâncias, acabam por cair em esquecimento.

Que A Cooperativa dure por muito tempo. E que os seus autores saiam de Campo D’Ourique!

DC disse...

Sem me querer alongar em discussões estéreis, longas e sobretudo inúteis como seriam discutir passpartouts, delegados comerciais da Santomar, S. Martinho do Porto e quejandos, tudo bem espremido (e muito bem espremido) resume-se a duas coisas:

1-A classe média

A classe média de Campo de Ourique não corresponde, em absoluto, à descrição que aqui é feita o que só demonstra um total desconhecimento sobre o que é a classe média e sobre o que é Campo de Ourique.

Campo de Ourique tem uma longa tradição na classe operária, hoje é um bairro estupidamente envelhecido, cujo rejuvenescimento foi totalmente parado por força da especulação imobiliária feita pelos Construtores Civis.

2-O Bairro

Argumentar que bairro, bairro é Alfama ou Bairro Alto é no mínimo, aberrante. Mas torna-se um pouco mais que isso quando se gasta metade de um comentário inteiro a assegurar que os habitantes de Campo de Ourique podem fazer toda a vida no Bairro (não precisando inclusive de carro), para depois vir justificar que um bairro, para o ser, tem de ser um caos.

Mas obrigar que um bairro para poder usar esse nome tenha de ser desorganizado, caótico e em ruas oblíquas revela um total desconhecimento dos bairros antigos portugueses e não só.

Campo de Ourique foi inspirado, na sua construção, no “quartier latin” parisiense, precisamente para acabar com a “salganhada” das ruas estreitas, da calçada portuguesa. Queria-se um bairro funcional e foi isso que se obteve.

Campo de Ourique é um bairro repleto de história eminentemente operário na sua fundação, que evoluiu para se tornar bairro de escritores e artistas, donde o Domingos Sequeira, o Azedo Gneco, o Sttau Monteiro, o Fernando Pessoa, o Almeida Garrett e o Alfredo Marceneiro, sendo actualmente um bairro residencial de classe média-baixa.

Só quem aqui nunca viveu, e desconhece a noção de bairro por residir em sítios tão inóspitos como a almirante Reis, ou o Técnico passando pela Fonte Luminosa pode, em consciência, não chamar bairro a Campo de Ourique ou pretender demonstrar que Campo de Ourique são só Bernardos e Franciscas (porque esses existem em todo o lado e cada vez mais no chiado, bairro alto e alfama com renda apoiada à custa de muitos subsídios do IGAPHE).

Anónimo disse...

O dicionário nunca nos deixa ficar mal. E o que diz o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa? Entre outras coisas – como a definição de calote ou desossado – diz que bairro é: “(...) Conjunto habitacional com homogeneidade e características próprias, dentro de uma povoação. A não ser que seja habitado por pelo menos um casal de Bernardo e Francisca. Nesse caso, não pode, em circunstância alguma, ser chamado de Bairro.” De maneira que vou ter de dar razão ao anónimo. Tenho pena, Domingos, é mesmo assim.
Quanto ao poder chamar-se bairro a Campo de Ourique, sem querer entrar em discussões sobre urbanismo, remeto só para uma busca no Google com os termos “bairro” e “campo de Ourique”, que nos revelam que os jornais, blogues, sites de turismo e outros, teimam em tratar Campo de Ourique como bairro. Há que rever os livros de estilo.
E a questão do traçado ortogonal? Quem foi o tolo que resolveu chamar Bairro Azul àquele conjunto de ruas que, se ainda me lembro da matemática, fazem ângulos de 90º? E o Bairro Alto? Aquilo também não são ângulos de 90º? A não ser que sejam vistos às 3 manhã, quando se volta para casa depois de umas cervejas. Aí, sim, as ruas parecem mais desordenadas
Quanto às considerações sobre os habitantes de C. Ourique, são opiniões. Fizeram-me reflectir. Realmente, o que abunda em C. Ourique é gente ridiculamente pouco ambiciosa. Ao contrário dos empreendedores dum Bairro Alto ou de uma Alfama, gente cuja ambição salta à vista. Aliás, as pessoas não a escondem e mostram-na orgulhosamente a quem passar por lá. Nomeadamente, enquanto estão sentados, orgulhosa e ambiciosamente, nas soleiras das portas das suas casas. É gente que se valoriza, não há dúvida.
Apesar do anónimo nos garantir que a maioria dos homens de Campo de Ourique é vendedora de automóveis, confesso que, em 26 anos que lá vivi, só conheci um. E nunca conheci ninguém que fosse passar férias a S. Martinho do Porto. Mas se ele nos garante...

Anónimo disse...

Depois de ter lido os comentários a este ridiculo artigo sobre Campo de Ourique, chego facilmente a uma conclusão:

Há mesmo gente que merece viver naquele "cafufu". Nomeadamente quem o defende. É a mesma coisa que andar com uma gaja muito feia e achar que ela é linda. Que ter um carro muito mau e achar que tem um Formula 1. Que sofrer de ejaculação precoce e achar-se o T T Boy.

Resumindo: gente que não vai ter mais do que uma vida TRISTE e CINZENTA, mas que a vai achar a melhor do mundo.

Anónimo disse...

Enrico, és Palazzo ou Pallazzo? Posso chamar-te só de pallazzo?
Olha rico,
Voce julgava que eu estava ligado ao meio do espectáculo, era isso?
Entao, escreve o que te vou dizer:
PE-dro Santos, Apartado 4232, Santarém.
Tá óvir-me? Rico?
Tás-móvire?
Um abraco pra si um beijinho pra ti, rico... 'deus... 'deus...

Wolfman

Anónimo disse...

Oh Wolfman (´nick panasca), tu gostas muito daquele actor de novela...ai, não me lembro do nome...aquele...que entrava no Uga Uga...Humberto Martins! Não gostas?

Anónimo disse...

Olha,... Rico,...
Tás móvire?...
Vó-ce tem fó-tós suas,... TU-TALMENTE: nu?

Wolfmanino

Anónimo disse...

Preferes que te chamem Wolfman ou lobinho? Aposto que os teus amigos te tratam por lobão quando estás em posição quattro patti. Eu prefiro Enrico Palazzo.
Já estou a ter problemas...

DC disse...

Sem querer ser mediador acho que isto já está a passar das marcas.

Não vejo utilidade nenhuma em continuarem a ofender-se.

Agradecia que o assunto acabasse por aqui.

Anónimo disse...

É o nível a descer e a qualidade a subir.
Pallazzo, só me chamam lobao quando é para me servir os 'tre piatti', nao os 'quattro patti'.

Anónimo disse...

DC, a intervenção é interessante: não quer ser mediador, mas intervem precisamente para mediar...É tipo aqueles que dizem, eu não vou dizer quem partiu o prato, mas o sacana do João vai pagá-las.

Anónimo disse...

Estou a estranhar esta discussão que nada tem a ver com o tema do post...Isto agora é um chat, é isso?!

Anónimo disse...

Mas qual discussao?! Nao há discussao nenhuma!
Um gajo nao pode abardinar, é?
Até aqui eu era o único a faze-lo. O palazzo veio-me - finalmente - fazer-me companhia (a propósito deste post) e dar um bocadinho mais de cor á cooperativa e agora vem os daltónicos dizer que há muito preto, só porque comecámos a utilizar umas cores mais escuras nos desenhos?!!!
Estou bunito, estou...
Tou para ver o que diriam se eu mandasse o link da cooperativa ao Jack Johnson...


Wolfman
nick panasca
Quattro patti
Tre piatti

Seguidores

Arquivo do blogue